Mas já se instalaram no topo. lá na diretoria
......Não acredito no purismo lingüístico, não. Desde que o homem é homem, as culturas e conseqüentemente, as línguas se interpenetram. Hoje, quem é que reclama da palavra "otorrinolaringologista", todinha grega? Quem é que não usa a palavra "garagem" (ou "garage", tanto faz), que vem do francês? Mas (quase) tudo na vida tem limite.
......Que me diz o leitor de traduzir "Smoking is not allowed" por ''Fumando não é permitido"? Alguém teria coragem de traduzir smoking por "fumando" nesse caso? Certamente não, mas muita gente traduz ao pé da letra frases como "I will be sending" ou "We will be booking" (por "Vou estar enviando" e "Vamos estar reservando", respectivamente).
......Onde estaria a inadequação de frases como "O senhor pode estar anotando o número?" ou ''Um minuto, que eu vou estar transferindo a ligação", que hoje em dia pululam e ecoam nos escritórios, no telemarketing etc.?
......Qual é o problema então? Vamos lá.
......Quando se diz, por exemplo, "Não me telefone nessa hora, porque eu vou estar almoçando", indica-se um processo (o almoço) que terá certa duração, que estará em curso, mas - santo Deus! -, quando se diz ''Um minuto, que eu vou estar transferindo a ligação", emprega-se a construção "vou estar transferindo" para que se indique um processo que se realiza imediatamente.
......A moda do "gerundismo" (essa de "O senhor tem que estar pegando uma senha", "Vamos ter que estar trocando a embreagem do seu carro", "Ela vai precisar estar voltando aqui amanhã", "A empresa vai poder estar fornecendo as peças" e outras ultrachatices semelhantes) só tem uma coisa de bom: o caráter democrático. ......Traduzo: a praga pegou da telefonista ao gerente, da faxineira ao diretor-presidente.
......E quem começou tudo isso? Não se sabe, mas me atrevo a dizer que nasceu da tradução literal do inglês (de manuais ou assemelhados).
......Recentemente, um motorista me disse: "Professor, agora o senhor vai ter que estar me dizendo em que rua eu vou ter que estar entrando". Se eu tivesse levado a sério a pergunta dele, deveria ter respondido isto: "Naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua...".
Pasquale Cipro Neto é professor de língua portuguesa. consultor e colunista de diversos órgãos da imprensa e o idealizador e apresentador do programa Nossa Língua Portuguesa, da TV Cultura. Este seu artigo foi publicado na edição nº1894 da Revista Veja..
Fonte: http://www.mulherdeclasse.com.br/gerundismo.htm
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